Japão e a Bossa Nova

No início dos anos 80, a Bossa Nova estava em crise no Brasil e até nos Estados Unidos, onde na década de 60 competiu em pé de igualdade com o Rock. A partir dos anos 70, com o advento do Soul, da Disco Music e do Reggae, a Bossa Nova começou a perder seu terreno nos Estados Unidos. Mas no início dos anos 80, a Bossa Nova começou a ser ouvida e adorada por aqui, o Japão.

Os primeiros músicos brasileiros a divulgarem a Bossa Nova no Japão foram Nara Leão e Roberto Menescal, quando os dois começaram a fazer shows e lançar discos no Japão. Mas a primeira artista brasileira a lançar um disco no Japão, foi Elizeth Cardoso, em 1978 lançou o disco ELIZETH LIVE IN JAPAN com vários sambas e bossas maravilhosos, até hoje anos depois de sua morte, Elizeth ainda é adorada por aqui.

Em 1985, há um reencontro maravilhoso entre Nara e Menescal, que lançam juntos o disco: UM CANTINHO E UM VIOLÃO. Menescal não lançava um disco há mais de 15 anos.
Esse disco acabou saindo primeiro no Japão e depois no Brasil. As músicas do disco são: O negócio é amar, de Carlos Lyra e Dolores Duran, Tristeza de nós dois, Sabor a mi, Da cor do pecado, Transparências, Blusão, Resignação, Vestígios, There will be another to you, Comigo é assim, Mentiras e Inclinações musicais.

Em 1988, Nara é convidada pelos japoneses a fazer um disco de clássicos do jazz cantados em português em ritmo de Bossa Nova. O disco se chama SONHOS DOURADOS. O disco é maravilhoso e já começa com Eu gosto mais do Rio, versão em português de How about you, essa versão em português ficou ainda melhor que a original, depois tem Um sonho de verão (Moonlight serenade), Garoto levado (Lullaby of birland), Milagre (Misty), Jamais (The boy next door), Além do arco-iris (Over the rainbow), depois tem a maravilhosa versão Aqui nessa mesa de bar, do super clássico As times goes by, Coisas que lembram você (These foolishing things), Me abraça (Embraceable you) e no final Como vai você (What is new).

No mesmo ano, depois de muita insistência dos japoneses, Tom Jobim faz um show histórico aos pés do famoso Monte Fuji. Há algum tempo que os japoneses queriam um show do Tom, mas o Tom desistia porque falava: Eu não vou pra lá só por causa do dinheiro, ninguém conhece minha música. Tom estava enganado, todos conheciam as músicas dele e quando acabou o show ele foi ovacionado pelo público, Tom ficou tão emocionado que voltou mais vezes ao Japão.

No final da década de 80, uma brasileira naturalizada japonesa, acabaria sendo uma espécie de embaixatriz da música brasileira entre os japoneses: Lisa Ono. Lisa Ono é filha de japoneses e desde pequena mora no Japão.

Uma coisa difícil de explicar é o motivo dos japoneses adorarem a Bossa Nova. Talvez as melhores definições tenham sido do Tom Jobim, que disse: “Deve ser porque eles têm bom gosto”, do Carlos Lyra, que disse: “Os japoneses não têm uma música popular, o que eles têm é uma música de mais de mil anos, que é uma música tribal”, do Roberto Menescal que disse que “os japoneses gostavam muito do Sérgio Mendes e achavam que ele era americano, quando descobriram que ele era brasileiro passaram a adorar a música brasileira” e do compositor japonês Ryuchi Sakamoto, que disse: “É uma música muito controlada. É calma, tem piano e a paixão está toda escondida. É como um oceano, quase sem ondas, mas com muita coisa acontecendo debaixo d’água. É como o canto de João Gilberto, você pode ouvir a paixão, mas ela está escondida dentro da música. Os japoneses gostam desse controle e dessa paixão oculta.”

Cd adquirido ontem, pelo blogueiro que vos escreve
Na década de 80, alguns discos da Nara Leão, foram gravados no Japão, mostrando aos japoneses a nossa música. Com isso, vários japoneses foram ao Brasil em busca de vinis raros de música brasileira, especialmente Samba e Bossa Nova, aí eles trouxeram esses discos para o Japão e lá transformaram em CDs, que hoje só existem no Japão, a preços muito caros, especialmente da Nara Leão, do Roberto Menescal, da Joyce, da Wanda Sá, do Sérgio Mendes, da Elizeth Cardoso, do João Donato e do Moacir Santos.

Em 1989, a cantora Leila Pinheiro, lança o belíssimo disco BENÇÃO BOSSA NOVA, o Cd é produzido por Roberto Menescal, é dedicado aos 30 anos da Bossa Nova e sai simultaneamente no Brasil e no Japão.

Ainda em 1989, Lisa Ono lança seu primeiro disco, CATUPIRY, o Cd só sai no Japão e tem só músicas feitas pela Lisa Ono. As músicas do disco são: Catupiry, O amor, o céu e o mar, Look for a Star, Saci Pererê, Piquenique em Paquetá, You`re so unique, Chega de pisar na bola, Carnaval dos meus sonhos, Moço menino, Madrugada de Quarta-feira, Lua cheia e Acalanto para Maira.

1998 foi um ano especial para a Bossa Nova. Foi o ano que a Bossa faz 40 anos e no Japão vários discos saem para comemorar essa data. O primeiro deles é o BOSSA CARIOCA, da Lisa Ono, com participação do Paulo e do Daniel Jobim, foram lançados também, TODOS OS CAMINHOS, da Jane Duboc, e o disco BOSSA NOVA 40 ANOS, com vários artistas de MPB.

No mesmo ano, Menescal e Wanda Sá, pararam Tokyo, em um show de comemoração dos 40 anos da Bossa nova, um coro de mais de 30 mil pessoas, a maioria japoneses, todos cantando os clássicos da Bossa Nova, e cantando em português.

Esse ano, foi comemorado os 50 anos da Bossa Nova, fiquei surpreso pois, em várias lojas de CDs que frequento, havia banners enormes em comemoração, em uma loja da Tower Records, uma das maiores redes de cds e dvds do japão, tem uma parte destinada a cds de música estrangeira, e lá possui uma parte destinada ao Brasil, e não tem qualquer CD não, na grande maioria são Cds de Bossa Nova, MPB e samba de raíz.
Segundo informações, o Japão possui o maior acervo de Bossa Nova no mundo, por aqui encontram-se albuns exclusivos, que nem no Brasil foram lançados.

Não é difícil se deparar com Bossa Nova por aqui, em várias Lojas de departamento, supermercado, bares e restaurantes, é muito comum ouvir músicas em português, ou no legítimo ritmo tupiniquim, os restaurantes que frequento, na sua maioria tem a Bossa Nova como som ambiente, é um som agradável e me orgulha saber que é brasileiro.

Para que não fique dúvida a respeito de tamanha admiração que os japoneses tem pela Bossa Nova, colocarei alguns vídeos, um é tributo a Tom Jobin, que foi gravado em Tokyo, quem canta é Lisa Ono, e os outros dois são de duas cantoras famosas de J-Pop, Ito Yuna e Koda Kumi, aliás sou muito fã das duas, mais da última é verdade, mas enfim, é sempre legal saber que ao menos por aqui, a música brasileira que mais gostam não é axé e funk, com parideiras rebolando, e sim uma música muito boa que infelizmente é pouco divulgada no Brasil, sinal disso é que fui conhecer vários artistas de Bossa Nova só quando pisei em solo nipônico.

Lisa Ono – Garota de Ipanema

Ito Yuna – Endless Story

Letra traduzida

Koda Kumi – Koi no Tsubomi

Fontes: Wikipedia, Alternativa, etc…
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